
Legaltechs podem substituir os advogados?
No dia do advogado, 11 de agosto, André Marinho Mendonça, sócio do BCM Advogados, fala sobre o crescimento das legaltechs, ou lawtechs, as startups na área do Direito. Elas já está promovendo mudanças nas rotinas de trabalho dos advogados e na sua relação com os clientes. Qual a dimensão desse impacto? Existem uma convivência possível? Confira a entrevista.
>>Antes mesmo do surgimento das legaltechs, recursos de automação já beneficiavam o trabalho nos escritórios de advocacia (exemplo da digitalização de acervos). Como estes primeiros recursos de automação transformaram as rotinas? O que mudou e como mudou?
A digitalização dos processos, tanto no Judiciário, quanto internamente nos escritórios, trouxe uma maior agilidade e dinamismo para o trabalho do advogado. Na prática, não dependemos mais de ir ao Fórum para obter cópia de processo, não dependemos mais de o processo ser localizado nas prateleiras das Varas. Hoje, simplesmente, acessamos os sites da Justiça e visualizamos o processo integralmente. Nos casos de processos que ainda não foram digitalizados pelo Judiciário, costumamos trazê-los ao nosso escritório e digitalizamos o material para facilitar o trabalho da nossa equipe.
>>Acredita que as startups podem substituir o trabalho dos advogados? Como analisa a situação?
Essa é uma questão de muitos debates hoje em dia. É fato que existem determinadas demandas, especialmente no contencioso de massa, que se repetem. Assim, à primeira vista, num caso desses, é fácil imaginar um “robô” fazendo o trabalho do advogado. No entanto, cada processo é um processo e é indispensável o crivo de um ser humano para traçar um estratégia processual e encontrar o melhor momento de abordar determinada situação.
>>Escritórios tradicionais e a tecnologia dessas startups já coexistem. Como você vê o futuro dessa coexistência? No que os dois formatos podem se complementar?
Eu entendo que a tecnologia deve ser sempre vista como algo agregador ao trabalho do advogado e devem coexistir para alcance dos melhores resultados para o cliente. É plenamente possível a conciliação do trabalho automático com o trabalho do advogado. Num primeiro momento, essa automação pode fazer uma triagem do que está sendo discutido no processo e indicar as possíveis estratégias de defesa, mas cabe ao advogado a análise final e o entendimento especifico do caso e das partes envolvidas para definição da melhor estratégia.
>>Neste novo cenário, qual o perfil profissional exigido do advogado? Existem atualizações necessárias?
O advogado jamais pode parar de estudar. O estudo do Direito é importante, mas temos percebido que conhecer as atualidades do mundo também é indispensável para o perfil de um bom advogado. Conhecer áreas não jurídicas como finanças, marketing, RH, além de ter conhecimento dos fatos que acontecem no mundo “extra-processos” é fundamental. O advogado deve ser um curioso nato e estar sempre atrás de notícias, em blogs, jornais, pensando sempre como aquela situação pode afetar o seu cliente.
>>Algumas destas startups são voltadas para o público cliente dos serviços jurídicos, a exemplo dos serviços digitais de busca por informações sobre legislação. Você acredita que isto deve modificar a relação entre advogados e clientes, exigindo uma comunicação mais próxima por meio da multicanalidade?
O acesso ao mundo digital já faz parte da relação advogado-cliente há algum tempo. É raro quando atendemos um cliente e ele já não tem uma primeira impressão do caso com base no que pesquisou nos sites de buscas. No que o cliente não tem tanta facilidade e precisa de um advogado é em interpretar a lei e adequá-la ao caso concreto. Nesse aspecto, a presença do advogado continua sendo indispensável. O profissional do Direito deve, no entanto, estar preparado para uso de todos os meios possíveis para contato com o seu cliente. Atender cliente por Skype, Whatsapp e outras plataformas já é algo muito comum na advocacia e o advogado precisa entender que o perfil do cliente não é mais o mesmo de 10 anos atrás.
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